A pandemia e as perdas

A experiência da pandemia nos levou a viver muitas perdas ao mesmo tempo, de ordem pessoal, profissional, espiritual, dentre tantas outras… Os profissionais de saúde que trabalham fora do ambiente hospitalar foram desafiados a remanejar o seu fazer para seguir trabalhando. As psicólogas migraram do presencial para o online e se depararam com temáticas que são pouco abordadas (quando não são abordadas) nas universidades, como o luto.

Vivemos tantos lutos ao longo de todos os dias desde março de 2019 para além das mortes… Mudança da nossa rotina, confinamento e isolamento social, incerteza sobre o futuro, o pesar sobre as mortes de pessoas ao nosso redor e o luto pelos nossos, o medo de morrer. Para além destes, cada um de nós sofre as suas perdas particulares, de sonhos, projetos, condições de existência.

Como psicóloga, ingressei – assim como tantas outras colegas – em projetos voluntários para tentar contribuir com o meu fazer neste momento de crise mundial que vivemos. Segui por seis meses e me vi beirando a estafa mental. Para além do acolhimento à população, os meus atendimentos clínicos foram obviamente inundados pelos conteúdos da pandemia: medo, ansiedade, desespero, tristeza, angústia, depressão. Ao lado disso, eu mesma passava por esses mesmos caminhos. Afinal, como ouvi certa vez, atravessávamos a mesma tempestade em embarcações diferentes.

O que tem sido fundamental em toda essa trajetória – dentre outros aspectos – tem sido a forte rede de apoio que quis construir. Colegas de profissão que viraram amigas de vida, com quem dividi dúvidas, angústias, buscando amparo neste caminhar. Esta rede alivia as quedas cotidianas, protegendo-me e apoiando-me. Que consigamos construir a nossa rede e ser rede para os nossos ao redor.