O que é Mindfulness?

As práticas de mindfulness (ou atenção plena) tiveram origem na tradição budista e foram sistematizadas para serem aplicadas pela Ciência por John Kabat-Zinn. Desta forma, o cientista – que já era praticante da meditação budista – pôde testar esta técnica de forma regular e organizada, incentivando outros pesquisadores a fazerem o mesmo. Hoje, temos inúmeros estudos sendo realizados com públicos e associados a temas diversos, que apontam para a constatação de que as práticas de mindfulness podem sim contribuir para a promoção da saúde.

O primeiro aspecto que aponta para a utilização das práticas de mindfulness possui relação com a postura de observação. Nela, nos desarmamos de tudo o que podemos fazer, das expectativas de onde podemos chegar, para simplesmente estar (e sentir como estamos). Em nossa sociedade do século XXI, uma sociedade do fazer e do burnout, o ato de parar e observar pode ser revolucionário. Esta atitude pode por si só provocar a liberação de hormônios que regulam nosso organismo, acalmando e aquietando nossas funções cerebrais, como apontam os estudos comentados por Kabat-Zinn (2013). 

A liberação dos julgamentos contribui para que o estado de observação se instaure. A atitude de abrir mão do apego às sensações e pensamentos cria um campo propício para a rendição do eu. Quando nos entregamos à prática, mais benefícios receberemos em troca – calma, lucidez, consciência, discernimento. Embora o final da rota aponte para isto, o caminho em si pode ser tortuoso, pois abriremos nossa escuta límpida para todas as palavras infelizes que dizemos a nós mesmos. Ouvir tudo isso dói, mas se as evitamos, impossibilitamos os meios de conviver corriqueiramente com elas.

Tudo isto com a intenção bem direcionada, pois a partir do momento que tais práticas são incorporadas na nossa rotina, mantemos a intencionalidade da sua realização. Elas não se tornam fruto de crenças ou fé, mas sim reflexo de um ofício constante e cotidiano. De um propósito que estabeleci para essa prática e que, portanto, me requer disciplina e desejo de prosseguir esse caminho nem sempre feliz, mas certamente consciente. Então as mudanças começam a ser percebidas, por nós e pelos os que estão à nossa volta. Começamos a sentir que nosso raciocínio mudou, que nossos afetos estão modificados.

Assim, a constância se efetiva, e o bem estar é percebido e propagado. Os efeitos da prática serão percebidos de forma singular em cada indivíduo. Certamente serão percebidos em momentos de crise, em que uma mente lúcida e atenta consegue discernir soluções mais efetivas. É quando nos atentamos que estamos gastando menos energia do que antes para viver – sem abrir mão da alegria e da intensidade na nossa existência.

Referência:

KABAT-ZINN, J. Full catastrophe living. How to cope with stress, pain and illness using mindfulness meditation. London: Piatkus, 2013.